Operacesa

Por Jota Medeiros

A utopia expressa por Noholy Nagy, artista Bauhaus, da pinturacesa, em Palatnik vem materializar o prenúncio de More, ou seja, a utopia em seu fim histórico, trans/marcuseano... Em 1950 e um apresentou o seu primeiro “Aparelho Cinecromático”, durante a inauguração da primeira grande mostra de arte Íbero Americana, a Bienal Internacional de São Paulo, obtendo menção especial do júri internacional. Palatnik em depoimento ao crítico Jayme Maurício, em artigo publicado no jornal “Correio da Manhã”, do Rio de Janeiro, de 14 de abril de 1960, “...Cinecromático condensa em si novas possibilidades na atividade artística, libertando o artista de uma fatalidade quase inevitável que é a limitação e redução da sua atividade às técnicas tradicionalmente conhecidas, e possibilita a realização concreta do problema do tempo, movimento e dinamismo...”

Antevêm assim, a Arte Cinética, que teve a sua primeira mostra inaugurada em Paris em 1955 na Galeria Denise René, reunindo obras de Marcel Duchamp, Alexander Calder, Ives Klein, Tinguely e Palatnik, entre outros. Seguiram-se outras exposições na Suíça, Holanda e Yugoslávia, bem como grupos de artistas organizados como o Grav (Grupo de Pesquisa e Arte Visual) e os “Grupos Gestalticos”, na Itália; “Novas Tendências”, na Yugoslavia; o grupo “Zero”, na Alemanha; “The Responsible Eye”, nos Estados Unidos e o “Dvijenie” (dinamismo), na União Soviética”.

Para Popper “A Arte Cinética se compõe de obra em movimento virtual (op) e real”, ou seja, uma “estética do movimento” e/ou “linguagem do movimento”, como propôs Gui Brett. Ainda, Palatnik: “(...) o movimento não é teórico, pois a órbita de cada elemento da seqüência é definido e obedece a um plano, predeterminado. O dinamismo não é teórico pois a natureza de cada momento de seqüência é decidido pela natureza imediata posterior e condicionada pela concepção total da seqüência. O problema do espaço não é teórico: a luz é projetada no espaço mas propositadamente limitada às proporções do aparelho. O problema do tempo também é anti-teórico no Cinecromático, pois sem a sua existencia concreta não seria possível a evolução dos elementos da seqüência...” Jean Klay afirmaria que a Art Cinética “não é operar o que se move, mas uma tomada de consciência da instabilidade do real.”

A Arte Cinética é também urbana, aproximando-se da Land Art (Arte da Paizagem) e do Happening, com o Grav, introduzindo-a no espaço urbano em suas representações. O Happening (Acontecimento), expressão cunhada por John Cage: “Tudo o que fazemos é música, há teatro o tempo todo”. Evidencia-se na Arte Cinética, “A participação do espectador e a luz como matéria prima”. Aí reside a sua adequação e/ou inserção até hoje o seu conseqüente desdobramento/retorno aos ambientes interiores via performance, ou “O corpo como motor da obra” (Frederico Morais), bem como da vídeo/arte (Vídeo/Performance Art), a Art Povera (ver process Art), onde “As obras concernem mais ao processo que ao produto”: (Celant), remetendo por sua vez a idéia de “Projeto”, dentro da teoria do Poema/Processo, ainda se aliando a estética fractal e a Poesia Visual e/ou a nova Poiesis.

Em suas manifestações mais radicais existe a Arte Cinética, segundo F. Morais “Apenas no momento em que é consumida. Às vezes sequer existe materialmente, como escultura ou objeto (é luz, cheiro, ruído). Enquanto o Pop e o Novo Realismo se esforçam para salvar os restos da sociedade de consumo, procurando eternizar um mundo de aparências, o cinetismo aceita o precário, o instável, um mundo em continua metamorfose”.

Palatnik é um dos pioneiros da Luz Direta e um dos mais destacados artistas deste movimento de Arte Cinética ao lado dos brasileiros Ubi Bava e Sérgio Camargo, do Italiano Bruno Munari, além de Alexander Calder, Julio Le Park, Albers, Tinguely, Soto, entre outros. A Arte Cinética é o prenuncio da Infoart, que tem como um dos pioneiros, o brasileiro Waldemar Cordeiro, redimensionada corporalmente pela sua filha Ana Lívia. A expressão se projeta para além da Geometria, ou como diria Melo e Castro in “Poética dos meios e Art High Tech”, “Como ciência da definição do espaço não pode agora alhear-se dos problemas do espaço social da comunicação, e dos suportes dessa comunicação, constituindo aquilo que se chama uma poética dos meios...”. Em analogia a análise crítico/teórica do poeta português ao referir-se a Nova Poiesis vemos a própria Arte Cinética como integrante da atual prática poética que se vale dos mais diversificados meios, entre o rupestre e o informático.

Palatnik inaugura uma fração da post-modernidade. A antiartecnologica que nos remete a Duchamp e Calder são máquinas de prospecção luminosa geratrizes de um hiper/espaço, um quase quasar-cibernético, a antevisão marinettiana que se expressa propulsora luz “Radionica” (Cordeiro), ou como diria Mário Pedrosa: “Temos cá fora a imagem numa desesperada ânsia de sucessão e simultaneidade, o espaço e o tempo indissoluvelmente reunidos”.

Aor (luz in hebraíco), aóperacesa prevê o khaos fractal do factual dia-a-dia, ou, o inscrever com a luz, além do mero dado pictórico (dimensional), a leitura in Tridimensions, acto reflexo, ou Khaos da similitude pictográfica.

Plasmar a Luz (primeiridade caleidoscópica) re (dimensionada em movimento), visão holográfica, geração de espectrais; fractais operados em plena luz, um Kyne-Multi-Variation. Aópera acesa em plena ascese, ou o movimento propulsor inartístico.

Artecnologiaplicada, quando inerentemente dispomos dos mais sofisticados multi-meios “A’Rtísticos” (Otávio Paz), atingimos a uma Terceiridade, Holokynestética, trans(estática).

Palatnik antevém, aidéia Primeira em alternância continua, ou Art idéia poscripta Agora.

A Construção de um antiholograma que interage no todo Khaosmico circular, o global ocular, há um deslocamento retiminiano, para fora da órbita ocular onde “O espaço e o tempo nasceram hoje”. (Gabo & Pevsner).

Texto Publicado no Jornal O Galo (edição especial). Fundação José Augusto, Natal, mai./1997

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