Tecnologia e Arte
Cirlot em seu Dicionário de los ismos define o leirismo (uma corrente poética que tem as suas fontes bebidas no Futurismo e no Dadaísmo) como “uma fórmula situada entre a banalidade e a graça de criar certo efeito poético pela simples agregação de letras, sem formação de palavras significativas e, portanto, sem emprego de imagens ou idéias de qualquer espécie, pondo em jogo a pura sonoridade inarticulada e o ritmo que decorre de tais arranjos’ ver Sittanjáfora). Dentro da poesia visual pós- futurista assistimos a uma série de tendências da poesia literária que ainda é praticada, o verso como unidade expressional em suas diversificadas instâncias como o soneto, entre outras. No cerne da poesia visual encontramos instâncias trans/literárias como o soneto visual letrista, onde o a’Rtista em sua performance viva expressa-se corporalmente.
Poetas comõ a inglesa Ana Hatherly e o português Fernando Aguiar, têm dimensionado este lance de dados. Este último, promove os seus rituais
performáticos utilizando-se em seu conjunto dos rudimentos da poesia sonora (como uma das modalidades da poesia experimental portuguesa e da poesia visiva italiana do segundo meado dos sessentas).
A sua prática se dá com a intervenção direta sobre determinados signos, gravuras (ícones barrocos) ei ou retratos históricos, como os célebres dos portugueses Eça de Queiroz, Oliveira Junqueira, Anthero de Quental. Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro.
Em suas “Recent Actions”, F. Aguiar registra as suas mais recentes apresentações públicas, que vão desde a Slovakia a Bento Gonçalves (RS) e a Hiroshima, no Japão. São espetáculos dotados de processos rituais verbivocovisuais, onde o poeta multimídia utiliza-se de vários mecanismos expressivos da gestualidade, re-produtores de signos outros, a exemplo dos 3 sonetos - acção portuguesa, apresentados na Nave de Serviços Artísticos, em Santiago de Compostelia, na Espanha, em 1995, onde o autor recria ambientalmente ei ou dá outra dimensão corpórea ao soneto estático, transformando-o em ópera e(x)tatica, aliando ao seu contexto o movimento objectual (a poesia sonoro(visual) em si mcurcionada) a exemplo de uma performance realizada J. Medeiros e Melo e Castro durante a mostra Poex (Poesia Experimental Portuguesa), promovida pelo setor de Multimídia do NAC, da UFRN, em Natal, na segunda metade dos oitentas (ver “Semeadura de letras”).
A esta situação alia-se contextualmente o movimento objectual para a geração alternativa de um signo outro: um posignovo/vivo. de nuestra memória.
Acerca do “soneto verbi-voco-visual” apresentado em Spoleto, na Itália, também em 1995, Fernando Aguiardescontextualiza o signo linguístico, inserindo-o no espaço tridimensional, pondo em prática propriamente o que Cirlot afirmou anteriormente como “fórmula situada entre a banalidade e a graça de criar efeito poético pela simples agregação de letras, sem formação de palavras significativas e, portanto, sem emprego de imagens ou idéias de qualquer espécie. pondo em jogo a própria sonoridade quase inarticulada e o ritmo que decorre de tais arranjos”.
Aqui, a composição trans/verbal e trans/sonora põe em xeque uma certa ambivalência: do realismo à gratuidade pré-conceitual. da crítica gratuita da gestualidade do novo signo em processo. que a retina estática do leitor estático, o que não vê o previsível, pela sua ignorância repertorial limita-se a determinado jogo lingüístico cansado, de certo soneto clássico (de pé quebrado) . O soneto aqui é concebido tridimensionalmente “Holográficamente”, dinâmico e polivisual, indo além do alcance lingüístico, explorando códigos multiplos, não visivéis a olho nú, ou seja, novos signos não perceptíveis pelo leitor limitado, a geração de um ovo significante.