
"Não há surdo como aquele que não ouve e não há cego como aquele que não vê."
(Provérbio em Iídiche)
"Só há originalidade verdadeira quando se está dentro de uma tradição."
(Eugenio D’ors)
A História Humana é a História da Imagem.
Desde a idade precedente a linguagem articulada, a arte rupestre, a escritura cuneiforme, a cerâmica grega ou marajoara, da Amazônia Brasileira até os alfabetos propriamente ditos. Os hieróglifos egípcios, os textos árabes (urbano/iconográficos), a gravura ancestral incaica e os códices mexicanos.

Caracteres Maia (Códices mexicanos)
Na cultura Semítica a tradição de lendas está expressa através de um corpus agádico, de agadá, estória em iluminuras/poemas/visuais que retrata os costumes, folclore superstições da cultura hebraica, desde a criação, o gênesis e outras estórias conseqüentes que marcaram a existência e permanência da cultura judaica a exemplo da Torá, o Pentateuco, os primeiros cinco livros escritos por Moisés a quase 6 mil anos e por ele traduzidos para 70 línguas.
Na Índia, há cerca de cinco mil anos, dentro de uma tradição ancestral, foram produzidos os Puranas, ícones sagrados ilustrativos intersemióticos do Mahabarata, do qual o Bhagvad-gitã, também conhecido como Gitopanisad é o volume básico iniciático, onde acha-se descrita a batalha de Kuruksetra em que o Sr. Krishna aparece ao guerreiro Arjuna revelando mais uma vez esta hierática escritura. Ícones representativos a exemplo da Suástica, que se repete em culturas posteriores como a Egípcia e a Greco-romana, desvirtuada de seu contexto, no século XX, pelo Nazismo.

Krishna diz a Arjuna que ele está se lamentando desnecessariamente
(PRABHUPADA, 1986, p. 221)
Na Grécia, o poeta Simmias de Rhodes, acerca de 2 mil e 300 anos produziu poemas figurativos, a exemplo de “As asas de Eros”

As asas de Eros, Poema de Simmias, configurando duas asas
(FIGUERES; SEABRA, 1977, p. 9)
Entre os celtas, destaquemos o livro de Kells dos monges cristãos, que nos remete a cultura agádica, bem como outros ícones românicos e góticos.

The book of Kells
Hoje no Ocidente há uma tendência à iconização, numa perspectiva preconizada pelo filósofo da Aldeia Global, Mcluhan, que previu a orientalização do Ocidente e vice-versa nos anos 1960. Convivemos a cada instante com a comunicação imagética; do semáforo urbano aos pictogramas dos Shoppings Centers e/ou estradas.
Seguem-se os movimentos das conhecidas “vanguardas históricas”, desde o Futurismo e as “palavras em liberdade”, passando pelo barroco, DaDaÍsMo e demais escolas, culminando com o Concretismo e suas vertentes estéticas como o neo-concretismo, a POEX e o Poema/processo e como síntese-prospectiva Diáspora, a Arte-correio.
“Poetas que tradicionalmente estudamos como clássicos da palavra, tais como Mallarmé, Novalis, Hölderlim... têm um grande interesse no que se respeita ao que simplificadamente rotulamos de extra-linguístico ou meta-romântico. E quando a imprensa saí do quadro artesanal para passar ao industrial, embora na sua primeira fase tivesse havido uma grande quantidade de apresentações visuais, já se concebe o poema com as limitações tipográficas. Assim, os Caligramas, não só de Apollinaire, porque os há em todas as línguas, os italianos de Remo Forlani, os catalães de Folguera e Salvat-Papasseit, etc., assumem uma nova dimensão ao poderem ser reproduzidos em gravura, como se fossem quadros.
Paralelamente outros poetas vão investigando a linguagem, homens como Cummings, Pound, Foix, que verificaram haver muito a fazer, tal como Gertrude Stein na prosa. Nomes tão imediatos como Tzara e Schwitters ou Haussman, Arno Holz, Venna, Birot, Huidobro, tem estado incluso em estudos concretos como o Dadaísmo, o Futurismo(...). Mas muitos permanecem ainda ignorados, à espera da mão do estudioso que os traga de novo à palestra pública. (FIGUERES, 1977, p. 10).
Após a II Guerra Mundial houve uma verdadeira efervescência experimental poética. No Brasil, o grupo “Noigandres” lançava internacionalmente o Movimento de Poesia Concreta. Simultaneamente, na Suíça, Eugen Goringer produz as suas “Constelações” entre outros poetas europeus, norte-americanos, asiáticos, culminando em uma nova tendência da poesia sem palavras dos anos 1960, passando pela Arte-correio até as tendências pós-contemporâneas ligadas a e-m@il art, a infoart, a estética dos fractais e/ou poéticas do III Milênio.
A Poesia Visual no Nordeste do Brasil...
... remonta aos nossos ancestrais, antecessores dos índios Carirís, Potiguares, Paiacús, Janduís, que expressaram o seu imaginário poético através da iconografia impressa nas paredes das cavernas, a exemplo do grande Poema-mural do lajedo de Soledade na Chapada do Apodi, Rio Grande do Norte.

Lajedo de Soledade - Arte Rupestre
Dentro do perfil de uma tradição visual, nos reportemos ao que perpetua enigmisticamente do hermetismo Greco-romano: a tradição da Cabala judaica (o Cabalismo e a Poética Pós/Iluminista), as marcas de ferro de ribeiras, herança de nossos irmãos marranos, especificamente do Seridó Potiguar como extensão sincrônica, mitopoética do aboio herdado da milenar cultura hebraica.
“Uns apontam para as pinturas rupestres, outros as identificam com as runas. Apesar de não podermos afirmar de forma categórica, suspeitamos e achamos mais provável que algumas daquelas marcas, tenham sido criadas por quem conhecia, se não a língua hebraica, pelo menos seus caracteres. Essa nossa indagação é fruto de nossa observação e identificação de muitas letras hebraicas encontradas em várias marcas de ferrar gados aqui no Rio Grande do Norte. Observemos algumas marcas nas quais identificamos uma quantidade significativa de letras hebraicas, inclusive uma marca nova, levantando a hipótese de sermos um daqueles patriarcas e como ficaria totalmente diferente do nosso nome em letras latinas. Assim entendemos que possivelmente, os que criaram essas marcas, também aboiaram suas rezas em hebraico, eram Judeus - Marranos - Cristãos Novos ou melhor - Os Bney-Anussim - Filhos dos Forçados.” Ver: MOURA FILHO, Manoel. De aboio e de Ferro. Jornal Zona Sul. Natal, Agosto de 2005, p2.

Magen David

Ferros de Gado (MOURA FILHO, Manoel. De aboio e de Ferro. Jornal Zona Sul. Natal, Agosto de 2005, p2. )
Podemos considerar o poeta baiano Gregório de Mattos como o pioneiro da nossa visualidade poética, ainda no século XVII.

Soneto - Gregório de Mattos (HATHERLY, 1983, p. 29)
Numa verdadeira Odisséia experimental, destaquemos a obra poética do maranhense Sousândrande, autor de Harpa Selvagem (1857, Tipografia Universal de Leamanert, Rio de Janeiro e Obras Poéticas, vol. 4, 1874, Nova Iorque), onde se encontra o poema premonitório do 11 de setembro, “O inferno de Wall Street”, este que é o maior cantor da América, ao lado de Whitman, Sousândrade canta toda uma mitologia ancestral, pré-Colombiana, os deuses e semi-deuses, Maias, Incas e a Civilização Amazônica.
Paulo Bruscky, curador da mostra de “Poesia de Vanguarda do Nordeste Brasileiro” (BRUSCKY, Revista Dimensão, 1997, p. 69 a 85), ocorrida em 1995, em Recife, João Pessoa e Natal, descobre “as experiências acrósticas”, datadas de 1753, de Frei João do Rosário, nascido no Recife em 1726, e sobre ele referiu-se F. A. Pereira da Costa em seu Dicionário Biográfico de Pernambucanos Célebres, editado em1882: Seja-nos lícito, pois, apresentar como característico do seu talento e merecimento poético, assim como dos seus conhecimentos da língua latina, os seguintes versos dentre os que acabamos de mencionar:

Joannes - Frei João do Rosário
(BRUSCKY, 1999, p. 25 )
Como vimos, estes versos heróicos, começando e acabando pela ordem das sete letras que compõem o nome latino Joannes e além disto, em outra ordem, das mesmas letras no meio de cada verso, constituem um trabalho primoroso pela sua beleza e curiosidade e revelam não só os dotes e engenho poético do seu autor, como também o perfeito conhecimento da língua em que estão escritos.
A inscrição acróstica que se segue não é menos bela, interessante e curiosa, senão mais difícil, porque, começando cada verso pelas mesmas letras do nome latino Joannes constam de cinco dicções, as quais também começam pelas letras relativas ao mesmo nome, deste modo.

Joannes (cont.) - Frei João do Rosário
(BRUSCKY, 1999, p. 26 )
Esse estilo de versos foi muito praticado durante o Maneirismo e o Barroco. O uso do acróstico duplo no primeiro poema, semelhante a certas poesias de Camões, entre outros poetas, a exemplo do português Manuel da Fonseca Borralho, do século XVIII abordando o labirinto poético como “numa engenhosa composição, & de tanta agudeza, que querer dar regras para ella, seria querer limitar os engenhos humanos, que são sem limite, & se não pode deduzir as regras”. Dessa forma, Ana Hatherly nos diz que “Como escreve Rengito, os labirintos de letras podem ser: em figura redonda, ò quadrada, ò pintando uma ave, ò um anzol, ò uma fuente, ò uma cruz, ò uma estrella, ò outras figuras, desta manera, à semejanza de qualquiera variedad de Poesias Acrósticas e Pentacrósticas, proporcionando las Coplas e las letras com aquella figura”. (HATHERLY, 1983, p. 113).
Ainda no referido texto Bruscky menciona que “no início do século XX, registramos os caligramas do poeta sergipano Hermes Fontes em seu livro Apoteoses (1908) e do poeta piauiense Da Costa e Silva, nos seus livros Sangue (Recife, 1908) e Zodíaco (Rio de Janeiro, 1916)”

Hermes Fontes - Pouco acima daquela alvíssima coluna -
(BRUSCKY, 1999, s/n)

Da Costa e Silva (BRUSCKY, 1999, s/n)
Em 1927, Câmara Cascudo edita através da Typografia d’A Imprensa, o Livro de Poemas de Jorge Fernandes, em que se evidencia a invenção semântico-formal, o objeto precário, impresso em papel de terceira categoria, como expressão meta-irônica, além da forma caligramática com que o poeta grafou o verso “Suspensa...”, no poema “Rede”.

Jorge Fernandes - Rede
(FERNANDES, 1927, p. 16)
Em 1941 é publicado o livro Poemas de Bolso do poeta e pintor pernambucano, Vicente do Rego Monteiro, inventor do poema-postal. Autor do “Poema 100% Nacional”, de nítido caráter visual conceitual no mesmo ano em que o alagoano Jorge de Lima produziu as suas poesias foto-plásticas, publicadas e conceituadas pelo mesmo Rego Monteiro, na Revista Renovação, por ele editada, na cidade do Recife. Esses Poemas foto-plásticos remetem diretamente ao Cinema expressionista alemão, são foto-montagens, alegóricas, dotadas de um amplo espectro “mitopoético”.

Vicente do Rêgo Monteiro - Poema 100% Nacional
(BRUSCKY, 1999, s/n)
Além de sua plasticidade alegórica, este poema nos remete a meta-ironia chargista-conceitual. O “Poema Tipográfico” pode vir a ser desencadeador de um “processo”, re-leitura que ainda não foi realizada, ainda atual, dentro de nossa realidade social, a aventura de acertar no jogo do Bicho, e a sua ludicidade sinestésica , do lance de dados que projeta a alegria, a número, do bicho em uma diminuta janela, entre “o acaso e a necessidade”, na concepção de Jacques Moneau.

Jorge de Lima – 1941
(BRUSCKY, 1999, s/n)
Em 1942 outro pernambucano estreou com Pedra do Sono João Cabral de Melo Neto que para Haroldo de Campos: “Já se encontram em germe algumas qualidades da poesia cabralina: o despojamento, o gosto pela imagem visual...”(CAMPOS, 1976, p. 90). Este poeta teve uma forte influência na produção dos concretos. O mesmo Haroldo de Campos observa o seu pragmatismo afirmando ser “a instauração, na poesia brasileira, de uma poesia de construção racionalista e objetiva...” (CAMPOS, 1976, p. 69) nos remetendo “A construção arquitetônica” do pragmatismo de Peirce, autor de uma teoria “Projetada e Construída” (PEIRCE, 1977, p. 193), para usar a expressão de Kant, arquitetonicamente: “Assim como o engenheiro civil, antes de construir uma ponte” (CAMPOS, 1976, p. 68).
Os poemas de O Engenheiro são como feitos à régua e esquadro, riscados e calculados no papel, e sua semântica funda coincidentemente um âmbito plástico de referências:
A luz, o sol, o ar livre
Envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
Superfícies, tênis, um copo de água.
O lápis, o esquadro, o papel;
O desenho, o projeto, o número:
O engenheiro pensa o mundo justo,
Mundo que nenhum véu encobre”. (CAMPOS, 1976, p. 69).
João Cabral de Melo Neto também colaborou com o grupo experimental “O Gráfico Amador” no Recife, composto por Gastão de Holanda, Aloísio Magalhães e Sebastião Uchoa Leite, que também editaram traduções de Mallarmé, Baudelaire, Rimbaud e Verlaine, além de livros experimentais (livros-de-artistas). Na Espanha, posteriormente, se fez presente o poeta e gráfico e a sua “Civil Geometria”.

Vicente do Rego Monteiro - Paisagem Zero
(Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco. Capa Catálogo, Recife, 1982)

João Cabral de Melo Neto - A Paisagem Zero
(Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco. Capa Catálogo, Recife, 1982)
Em 1952 Vicente do Rego Monteiro publica em Paris o livro Concretión, com poemas-minutos contemporâneos do potiguar José Bezerra Gomes, no qual atentamos para uma antropofagia Oswaldiana, de ascendência minimalista (concreta).

Vicente do Rêgo Monteiro - Concrétion
(BRUSCKY, 1996, p.105)

José Bezerra Gomes - Todos
(GOMES, 1974, p. 57)
No Rio Grande do Norte, o poeta Luiz Rabelo inicia o livro O Espaço Concretista, em 1957. O poema “Lãmina” antecipa as futuras experimentações visuais/processuais em que o poeta expressa conceitualmente o branco absoluto em plena sincronia suprematista malevitcheana.

Luiz Rabelo - Lãmina
(RABELO, 1985, p. 3)
O poema Lãmina (1957) se expressa icônico (semanticamente), o branco na sua transparência em sincronia com a palavra Lã, algodão, nuvem/poeira, nos remetendo à Teoria dos Fractais, como diria Melo e Castro hoje: “através da geometria fractal e da informática é hoje possível criar paisagens que nunca existiram e que de realístico apenas têm a dimensão fractal dos contornos das suas formas”. (CASTRO, 1988, p. 74). Observe-se neste poema de Luiz Rabelo a “estrutura ausente” da forma em si presentificada, conceitualmente, numa simbiose (icônico/simbólica), uma alternância forma x conceito, gerando o signo (significante): Lãmina.
Nos anos 1957 e 1959 foram realizadas duas mostras de Poesia Concreta no Estado do Ceará, tendo a frente o poeta José Alcides Pinto. Entre os poetas nordestinos que participaram direta e/ou indiretamente do movimento da Poesia Concreta, podemos citar o maranhense Ferreira Gullar deflagrador do Movimento Neo-Concreto e autor da Teoria do Não-Objeto; o baiano Clarival do Prado Valladares que em parceria com o cineasta Glauber Rocha publicou, em 1959, um livro experimental com 25 poemas; o alagoano Edgard Braga e os pernambucanos Manuel Bandeira, Pedro Xisto e Joaquim Cardoso.

Ferreira Gullar - Barco Azul
(BRUSCKY, 1999, s/n)
Em Ferreira Gullar observe-se – “o espaço como dado empírico simbólico”, configuração identificada por Luis Edgard de Andrade, da Revista O Cruzeiro, em dezembro de 1967. Esse caráter simbólico antecede ao Minimalismo Conceitual, característico de outras vertentes surgidas na Europa e na América como a Arte Conceitual, a Process Art e o Poema/Processo no Brasil. Gullar nesse território do simbólico, vertente concreta mais radical, busca a uma reconstrução da sintaxe e a supressão do objeto.
Anchieta Fernandes em seu livro Por uma Vanguarda Nordestina, discorre acerca do “Grupo Dés” (homenagem mallarmeana), que em dezembro de 1966 anunciava o lançamento da Poesia Concreta no Estado do Rio Grande do Norte, “a primeira exposição de Poesia Concreta do Natal, reapresentando poemas/cartazes de Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos, Wlademir Dias-Pino, Ronaldo Azeredo, Edgard Braga, Osmar Dillon e José Lino Grenewald e apresentando poemas dos norte-rio-grandenses Nei Leandro de Castro, Dailor Varela, Luis Carlos Guimarães, João Bosco de Almeida e Anchieta Fernandes”. Um ano após em 11 de dezembro de 1967 simultaneamente com o Rio de Janeiro, acontecia em Natal a primeira exposição do Poema/Processo, denominada entre nós com o título de Explo-2. (FERNANDES, 1976, p. 90)
Em 1970 o poeta cearense Pedro Lira lança através do Jornal do Brasil, o “Manifesto do Poema Postal”. No início dessa década surge o Movimento Internacional da Arte/Correio.
No Nordeste realizaram-se importantes eventos multimedia, especificamente no “triângulo amoroso Natal, João Pessoa e Recife”. Festivais de arte, performances, arte/postal. Foram criados os Cambiu (Centros da Arte Marginal Brasileira de Informação e União), tendo como suporte múltiplas publicações, fanzines/envelopes como Povis/Projeto (RN), A Gaveta, Multipostais (PE) e Karimbada (PB), entre outras publicações, num permanente intercâmbio com o mundo.
Data de 1975 a “I Exposição Internacional de Arte/Postal”, organizada por Paulo Bruscky, Daniel Santiago e Ypiranga Filho no hospital Agamenon Magalhães na cidade do Recife.
Em 1977 é realizada a I Mostra Internancional D’Art por correspondência no Restaurante Universitário da UFRN, durante o evento promovido pelo Diretório Central dos Estudantes/DCE. Também em 1977 ocorre em Natal a “Expoética”, Mostra comemorativa dos 10 anos de inauguração do movimento do Poema/Processo mostrando as mais recentes tendências poéticas praticadas no mundo, evidenciando-se a Arte/Correio como mídia (Internet) da época, propulsora dessa grande rede (Network) da atualidade.
Um ano após, em 1978, Jota Medeiros realiza o Poema por Telefone, que foi censurado. Em Recife os 10 anos comemorativos do Poema/Processo aconteceu antecipadamente em 14 de março, no Dia Nacional da Poesia, com a realização do projeto Poesia Viva, idealizado por Paulo Bruscky e Unhandeijara Lisboa e a participação de vários outros artistas. Um Happening em que artistas vestidos em túnicas-letras compunham expressões simbólicas. O evento, que seria urbano, foi também censurado, realizado no topo da Biblioteca Pública da Cidade do Recife.

Jota Medeiros - Poema por telefone
(MEDEIROS, 1995, s/n)
São inúmeros os eventos realizados que aqui não haveria espaço para se mencionar. De passagem, podemos lembrar momentos importantes, propulsores de novas atividades, de outras práticas poéticas, a exemplo dos Festivais de Inverno da Unicap (Universidade Católica de Pernambuco), em Recife, destacando a participação do artista convidado, Hélio Oiticica, que lançou a sua última versão dos parangolés e os Festivais de Arte realizados no Forte dos Reis Magos e no espaço urbano da Cidade do Natal.
Em 1982 acontece o I Seminário de Semiótica & Arte na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e, consequentemente, a criação do Setor de Multimedia, do Núcleo de Arte e Cultura (NAC), promovendo, logo em seguida, no ano de 1983, a I Multimedia/UFRN e a Mostra Nacional de Art Door “Natal em Natal”. A década de 80 se caracterizaria com essa forte e atuante presença dos multimeios artítiscos: art door, vídeo art, computer art, infoart, performances, xerografias, intervenções urbanas...
Em 1985 acontece a Poex-Hoje (Exposição Documental da Poesia Experimental Portuguesa), com curadoria de Melo e Castro, promovida pelo NAC/Setor de Multimedia/CCHLA e Departamento de Letras da UFRN. Essa Mostra foi inaugurada com performance “Semeadura de Letras”, de Melo e Castro e J. Medeiros. M.C. proferiu a Conferencia “Que Poesia para o ano 2000?”, na UFRN e posteriormente em Recife, no Gabinete Português de Leitura. A mesma Poex foi reapresentada também na Galeria Lula Cardoso Ayres.

J. Medeiros & Hélio Oiticica - Statuscu – Texto (release)
(MEDEIROS, s/n, p. 85)

J. Medeiros - Mostra Nacional de Art Door Natal em Natal
(MEDEIROS, s/n, p. 86)
Durante os anos de 1990, aconteceram dois importantes eventos. O primeiro foi a Mostra Nacional de Poesia Visual (1995) realizada na Galeria Conviv’art (NAC/UFRN), culminando, no ano seguinte, com a Mostra Internacional de Poesia Visual (comemorativa dos 40 anos do Movimento da Poesia Concreta), inaugurada por Décio Pignatari, sob a nossa curadoria.
São muitas as realizações, experiências e projetos realizados pelos produtores multimidia nordestinos utilizando-se de todos os possíveis meios, dos processos mais primitivos, mais artesanais aos mais sofisticados da contemporaneidade tecnológica, nesta era da globalização, nesta era da e-mail @rt.
Caberia destacar o vídeo “Galáxias”, de Jota Medeiros e Joel Carvalho, uma “versão estrutural” , segundo Haroldo de Campos, do poema homônimo do supracitado poeta concreto. As instalações ambientais e urbanas do Grupo Ô-xente (sobretudo o trabalho do escultor Guaraci Gabriel), a multimedia Sayonara Pinheiro e a fotógrafa Candinha Bezerra aliadas à mais sofisticada poesia sonora do poeta experimental português Américo Rodrigues e ainda as experiências dos norte-rio-grandenses Henrique José, Franklin Capistrano, Fábio di Ojuara, Bianor Paulino, Avelino de Araújo, e os “poemas eletrificados”, experiência desenvolvida pelos poemúsicos Carito e Edu Gomes.
Em Pernambuco surgem novos inventores de poesia, a exemplo de Morillo, Delmo Montenegro e Bruno Monteiro, autor da mostra “Âmbitos”, realizada na Pinacoteca do Estado em Natal, em 2002. Na Bahia, o poeta Almandrade produz os seus livros conceituais, evidenciando-se toda uma tradição poética de vanguarda registrada nos números da revista Código, editada por Erthos Albino de Souza. Este poeta atuou junto ao Movimento do Poema/processo, sendo um dos principais articuladores juntamente com Moacy Cirne da II Mostra Nacional do Poema/processo ocorrida em 1968 no Museu de Arte Moderna da Bahia. Sem esquecer toda uma história deflagrada com o movimento da Tropicália, a forte presença dos músicos e compositores Gilberto Gil e Caetano Veloso e do artista gráfico Rogério Duarte.
Em Caetano Veloso evidencia-se a musicalidade conceitual, na qual o autor materializa o tempo e o espaço sonoro numa simbiose alegórica contínua, em dialogo com a fotografia da cantora Gal Costa e num permanente retorno extralingüístico: sonoro.
No Piauí podemos mencionar nomes como o poeta tropicalista Torquato Neto e posteriormente Francisco Miguel de Moura e Rubervan du Nascimento. Este último em 1994 foi curador da Mostra Visual de Poesia Brasileira, uma homenagem aos 50 anos do supracitado poeta Torquato Neto.
Este quase-perfil cronologia aqui traçada vem confirmar toda uma tradição de vanguarda histórica, desde a conferência “Natal daqui cincoenta anos”, proferida pelo inventor Manuel Dantas em 21 de março de 1909, na mesma época da publicação do Manifesto do Futurismo de Marinetti no jornal Le Figaro de Paris e publicado no Brasil pelo jornal A República em Natal, traduzido por M. D., inventor, como prática premissa básica das diversas poéticas de invenção; do Poema/processo (anos 1960), a arte/correio (anos 1970/80), e a infoart ou poéticas do III milênio.