DO POEMA/PROCESSO À ARTE POSTAL, DA ARTE POSTAL AO POEMA-PROCESSO

O poema-processo, em suas propostas teóricas básicas, comportava aberturas criativas as mais diversas, segundo perspectivas críticas voltadas para as possibilidades técnicas de materiais potencialmente (re)utilizáveis. Para o poema/processo, o suporte, qualquer suporte, fazia e faz parte substantiva do poema. Daí a importância que se deu ao livro-poema A ave, de Wlademir Dias Pino, o significativo marco inaugural da poesia concreta, em 1956, abrindo-se para a vertente semiótico-concreto-espacional, que seria uma das matrizes fundantes do poema/processo em 1967. E, se é verdade que, nos anos 70, o nosso grupo do Rio (WDP, Álvaro de Sá, Neide Dias de Sá, Anselmo Santos, George Smith, Lara de Lemos, Luís Serafini, eu próprio) não investiu na arte-correio (com seus poemas postais produzidos, sobretudo, no Nordeste, muitas vezes em luta aberta contra a ditadura militar), em nenhum momento deixamos de apoiá-la. Em nenhum momento, deixamos de estabelecer fecundo contato com seus criadores e seus militantes do saber experimental. Em nenhum momento, deixamos de levar em consideração seu potencial criativo, quando transformava envelopes e cartões postais propriamente ditos em suportes recriados tendo em vista suas informações (anti)poéticas ou (anti)literárias. Assim sendo, leitores críticos da arte/postal já que jamais seríamos 'leitores inertes', no dizer de Gaston Bachelard , apostamos, como grupo organizado, na força expressional de uma arte/correio interativa que, ao veicular a poesia gráfico-visual da época, acabava por se valer de procedimentos semióticos trabalhados pelo poema/processo desde o final dos anos 60. Até mesmo porque poetas/artistas como Falves Silva e J. Medeiros, com militância pluridimensional no Rio Grande do Norte, faziam do poema/processo a ponte semiótica necessária para a compreensão e a feitura da arte postal.

Moacy Cirne

Escritor, teórico de histórias em quadrinhos e co-fundador do poema/processo.

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